A
construção de viadutos e pistas elevadas foram por muitos anos
sinônimo de solução para problemas de mobilidade mobilidade urbana
nas cidades. Mas o tempo mostrou que o asfalto em cima de colunas de
concreto não representou a resolução das dificuldades viárias,
apenas transferiu a retenção de veículos para outro lugar. Ao
mesmo tempo as áreas próximas entraram em um processo de
desvalorização urbana e econômica. Diante dos problemas gerados,
os conceitos mais atuais de mobilidade urbana foram ao longo dos anos
esquecendo dos elevados e passaram a pensar mais na harmonia entre
todos os elementos envolvidos no ambiente urbano.
Segundo
um estudo realizado
recentemente pela empresa Sinergia Estudos e Projetos LTDA, um
viaduto urbano ajuda a “diminuir o tempo de percurso entre dois
pontos, porém ao formar parte de uma rede, transmite o problema aos
seus acessos”. Além disso ele “tira valor fundiário de uma
área”. Já o professor do curso de arquitetura e urbanismo da UFC,
José Sales, declarou a
revista Carta Capital em 07/11/2013 que os viadutos "são obras
públicas que degeneram o tecido urbano envoltório”. A prova
contundente é que várias cidades do mundo não só desistiram de
construir viadutos como também decidiram retirar alguns de suas
paisagens. Um exemplo no Brasil é o Rio de Janeiro que teve o Elevado Perimetral removido.
Ainda no Brasil se discute a remoção do Minhocão em São Paulo e a
retirada do Viaduto das Cinco Pontas no Recife. Em um simples
exercício mental é possível recordar de áreas que se tornaram
pouco atraentes após a construção de vias elevadas ao seu redor.
As tendências atuais
não proibiram a construção de novos viadutos ou nem tampouco
determinaram o fim de edificações já prontos. A mudança existente
foi que surgiram mais critérios na hora de se optar por vias
elevadas. Já as cidades que retiraram as suas montanhas de concreto
partiram para essa alternativa após análises bastante profundas
sobre o impacto das obras de remoção e a viabilidade econômica e
social do investimento. Na década de 70, 80 e até 90 no Brasil, os
viadutos eram construídos com o objetivo de melhorar o tráfego de
veículos e davam uma certa imponência a localidade.
Trazendo
o tema para Natal e analisando os viadutos da cidade, um caso chama
bastante atenção. Trata-se do viaduto do Baldo que foi construído
em 1978 na gestão do prefeito biônico Vauban Farias. O elevado liga
a avenida Juvenal Lamartine no Barro Vermelho até a Cidade Alta no
entrocamento das avenidas do Contorno e Rafael Fernandes. Por estar
fixado em uma área com diversas vias alternativas, a sua interdição
nunca gerou grandes impactos no transito. O atual secretário
municipal de obras do município, Tomaz Neto, comentou ao Jornal de
Hoje em 25/04/2014 que o equipamento nunca recebeu uma manutenção
estrutural ao longo de sua existência. Não é por acaso que o
empreendimento está interditado desde outubro de 2012 por ter
exatamente problemas em sua estrutura. Por baixo do aglomerado de
concreto e entre as suas colunas existe uma área bastante ociosa. Os
espaços localizados entre as ruas Mermoz e Ernani da Silveira já
foram inúmeras vezes ocupados por moradores de rua e imigrantes do
interior do estado.
Área inferior do viaduto do Baldo Foto: Magnus Nascimento / tribunadonorte.com.br (28/02/2015) |
Ainda não se viu na capital potiguar nenhuma discussão minimamente consistente sobre a importância do viaduto do Baldo para a cidade. É preciso estudar a viabilidade de substituir o amontoado de concreto por uma nova área urbanizada que renderia mais qualidade de vida para a população da região. O espaço seria contemplado com uma área de lazer pública, equipada com espaço de eventos e pistas de caminhadas que margeariam o canal do Baldo. O hipotético empreendimento resgataria a antiga paisagem do lugar, valorizaria todos os bairros próximos e seria decisivo na revitalização do centro de Natal. O projeto também incluiria a integração entre as praças Tamandaré e Carlos Gomes que estão situadas entre as avenidas Deodoro da Fonseca e Coronel José Bernardo/Rio Branco. A viabilidade econômica do projeto é observada na medida em que valorização dos imóveis próximos geraria o aumento de arrecadação proveniente do IPTU.
A solução para o
viaduto do Baldo é mesmo a sua demolição.
Obs.: O projeto teria
que incluir a despoluição do canal do Baldo.