sábado, 28 de fevereiro de 2015

A solução para o viaduto do Baldo

A construção de viadutos e pistas elevadas foram por muitos anos sinônimo de solução para problemas de mobilidade mobilidade urbana nas cidades. Mas o tempo mostrou que o asfalto em cima de colunas de concreto não representou a resolução das dificuldades viárias, apenas transferiu a retenção de veículos para outro lugar. Ao mesmo tempo as áreas próximas entraram em um processo de desvalorização urbana e econômica. Diante dos problemas gerados, os conceitos mais atuais de mobilidade urbana foram ao longo dos anos esquecendo dos elevados e passaram a pensar mais na harmonia entre todos os elementos envolvidos no ambiente urbano.

Segundo um estudo realizado recentemente pela empresa Sinergia Estudos e Projetos LTDA, um viaduto urbano ajuda a “diminuir o tempo de percurso entre dois pontos, porém ao formar parte de uma rede, transmite o problema aos seus acessos”. Além disso ele “tira valor fundiário de uma área”. Já o professor do curso de arquitetura e urbanismo da UFC, José Sales, declarou a revista Carta Capital em 07/11/2013 que os viadutos "são obras públicas que degeneram o tecido urbano envoltório”. A prova contundente é que várias cidades do mundo não só desistiram de construir viadutos como também decidiram retirar alguns de suas paisagens. Um exemplo no Brasil é o Rio de Janeiro que teve o Elevado Perimetral removido. Ainda no Brasil se discute a remoção do Minhocão em São Paulo e a retirada do Viaduto das Cinco Pontas no Recife. Em um simples exercício mental é possível recordar de áreas que se tornaram pouco atraentes após a construção de vias elevadas ao seu redor.

As tendências atuais não proibiram a construção de novos viadutos ou nem tampouco determinaram o fim de edificações já prontos. A mudança existente foi que surgiram mais critérios na hora de se optar por vias elevadas. Já as cidades que retiraram as suas montanhas de concreto partiram para essa alternativa após análises bastante profundas sobre o impacto das obras de remoção e a viabilidade econômica e social do investimento. Na década de 70, 80 e até 90 no Brasil, os viadutos eram construídos com o objetivo de melhorar o tráfego de veículos e davam uma certa imponência a localidade.

Viaduto do Baldo
Foto: Adriano Abreu / tribunadonorte.com.br (28/02/2015)

Trazendo o tema para Natal e analisando os viadutos da cidade, um caso chama bastante atenção. Trata-se do viaduto do Baldo que foi construído em 1978 na gestão do prefeito biônico Vauban Farias. O elevado liga a avenida Juvenal Lamartine no Barro Vermelho até a Cidade Alta no entrocamento das avenidas do Contorno e Rafael Fernandes. Por estar fixado em uma área com diversas vias alternativas, a sua interdição nunca gerou grandes impactos no transito. O atual secretário municipal de obras do município, Tomaz Neto, comentou ao Jornal de Hoje em 25/04/2014 que o equipamento nunca recebeu uma manutenção estrutural ao longo de sua existência. Não é por acaso que o empreendimento está interditado desde outubro de 2012 por ter exatamente problemas em sua estrutura. Por baixo do aglomerado de concreto e entre as suas colunas existe uma área bastante ociosa. Os espaços localizados entre as ruas Mermoz e Ernani da Silveira já foram inúmeras vezes ocupados por moradores de rua e imigrantes do interior do estado.

Área inferior do viaduto do Baldo
Foto: Magnus Nascimento / tribunadonorte.com.br (28/02/2015)

Ainda não se viu na capital potiguar nenhuma discussão minimamente consistente sobre a importância do viaduto do Baldo para a cidade. É preciso estudar a viabilidade de substituir o amontoado de concreto por uma nova área urbanizada que renderia mais qualidade de vida para a população da região. O espaço seria contemplado com uma área de lazer pública, equipada com espaço de eventos e pistas de caminhadas que margeariam o canal do Baldo. O hipotético empreendimento resgataria a antiga paisagem do lugar, valorizaria todos os bairros próximos e seria decisivo na revitalização do centro de Natal. O projeto também incluiria a integração entre as praças Tamandaré e Carlos Gomes que estão situadas entre as avenidas Deodoro da Fonseca e Coronel José Bernardo/Rio Branco. A viabilidade econômica do projeto é observada na medida em que valorização dos imóveis próximos geraria o aumento de arrecadação proveniente do IPTU.

Baldo sem o viaduto
Foto: Jaeci / portal.natal.rn.gov.br (28/02/2015)

A solução para o viaduto do Baldo é mesmo a sua demolição.

Obs.: O projeto teria que incluir a despoluição do canal do Baldo.

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