sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O cinema está mais barato?

Foto: Marcelo Camargo / Fotos Públicas (30/01/2015)
Passa ano e entre ano e o cinema continua sendo uma das principais atividades relacionados ao entretenimento. Mas antes, durante e depois das sessões é muito comum escutar reclamações referentes aos preços cobrados para se prestigiar a sétima arte. Absurdo, roubo e exploração são as palavras corriqueiramente utilizadas pelas pessoas para definir o quanto que se tem que desembolsar para assistir um filme na tela gigante. O argumento do reclamante na maioria das vezes está associado ao quanto se pagava nos anos passados. No inconsciente desse público há sempre a expressão “antigamente era mais barato”. Outros não reclamam e afirmam que nos dias atuais é mais caro devido a correção monetária dos valores.

Quem está com a razão?

Quem ia ao cinema no sábado a noite em julho de 1994 quando o Real passou a ser a moeda oficial do Brasil tinha que pagar R$ 3,50 que é uma quantia bem inferior aos R$ 24,00 cobrados atualmente. O salário mínimo naquela época era R$ 64,79 e um ingresso representava 5,4% do seu total. Em dezembro de 2014 uma ida ao cinema representava 3,31% já que o mínimo até então estava estipulado em R$ 724,00. Analisando essa simples proporção é possível concluir que o cinema atualmente é proporcionalmente mais barato do que no início do plano real porque uma entrada hoje representa uma fração menor do salário mínimo. A proporção está correta mas o raciocínio aplicado ao preço do cinema está equivocado pelo fato do salário mínimo brasileiro de julho de 1994 até dezembro de 2014 ter subido quase 1.018% enquanto a inflação no mesmo período ficou em 373,27%, ou seja, é natural que qualquer produto ou serviço hoje esteja relativamente mais barato em relação ao mínimo do que na década de 90. Teoricamente uma entrada na bilheteria para um sábado a noite deveria custar algo em torno de R$ 16,58 quando é aplicado a inflação do mesmo tempo e não os R$ 24,00 atuais.

É importante destacar que uma ida ao cinema tem na maioria das vezes outros gastos agregados como transporte e alimentação. A partir do momento em que se analisa cada despesa dentro de um mesmo contexto é possível identificar dentro do conjunto o que ficou mais e menos caro ao longo de mais de 20 anos. Ir ao cinema de ônibus, assistir um filme, lanchar um Big Mac no Mc Donalds e voltar para casa também de ônibus é o mesmo programa desde sempre e serve como exemplo. Na tabela a seguir consta o valor de cada item em 1994 e 2014.



07/1994
12/2014
Cinema
R$ 3,50
R$ 24,00
Big Mac
R$ 3,50
R$ 13,50
Ônibus*
R$ 0,64
R$ 4,70
Total
R$ 7,62
R$ 42,50
                                                                         * Valor referente a duas passagens

Analisando o gráfico abaixo percebe-se uma mudança significativa na participação de cada item ao longo dos anos dentro do gasto total. Quem fala que o cinema hoje é mais caro está correto porque seu valor aumentou consideravelmente em relação ao custos agregados citados. 



É preciso discutir a razão do aumento do ingresso muito superior ao índice de inflação. A banalização da meia entrada e qualidade superior de áudio, imagem e conforto podem ser motivos que justificam tamanha diferença.

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